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Este post passa-se entre as 19h00 de dia 23/11 e as 23h59 de dia 24/11.

19h00  – É Black Friday. Assim o dizem os cartazes afixados em todas as montras deste centro comercial onde tive de me vir meter depois de um dia de trabalho. Eu não quero aproveitar as promoções. Só preciso de comprar mais três tabletes de chocolate sem leite, para o recheio e para a cobertura do bolo de aniversário do Pedro.

19h30  – Penso que tenho de começar a fazer ganache de chocolate com cacau em pó. Com o dinheiro que já gastei em ingredientes para dois bolos dava para contratar um chef pasteleiro francês. Mas se calhar não ia ter confiança no trabalho dele. Eles abusam que se fartam da manteiga. Tudo deve estar contaminado. Vou manter-me fiel ao plano inicial.

19h45 –  Entro numa loja de produtos para festas e compro um balão em forma de 6. O rapaz da caixa tenta vender-me uma moeda “de ouro” feita em chocolate. “O aniversariante vai gostar” – garante-me ele. “Não vai não porque ele é alérgico e…” – respondo em piloto automático. Não vou ter esta conversa novamente. Tenho de despachar-me.

20h00  – Volto ao supermercado. Tenho medo que a comida não seja suficiente. Compro mais umas caixas de bolachas.  Vou juntá-las àquelas que fiz e congelei há duas semanas. E às que ainda vou fazer amanhã… se tiver tempo.

20h30 – Já no carro, a caminho de casa, penso que tenho a situação controlada. Depois do jantar é arregaçar as mangas e começar a fazer bolos como se não houvesse amanhã. Este ano o Pedro terá um bolo com emojis, conforme lhe prometi.

20h40 – Chego a casa. Não há água. Não há condições para levar a cabo a minha missão pasteleira. Lamento-me. Resigno-me, vou jantar.

22h00 – Momento existencialista em que reflito sobre o quão fácil é a vida das outras pessoas, que podem ir ao raio de uma pastelaria comprar um bolo de aniversário.

22h10 – O momento existencialista é interrompido pelos meus cálculos acerca da hora a que terei de me levantar para fazer o bolo, ir comprar fruta fresca para as espetadas, fazer as ditas, fazer folhados, fazer o almoço e arrancar para o parque de insufláveis onde será a festa do petiz.

23h00 – Finalizo os toppers emoji cocó para os queques de chocolate. Cada um é para o que nasce.

23h45 – Vou ver qualquer coisa na televisão para relaxar… zzzzzzzzzzzzz. Desfaleço.

06h30 – Acordo antes do despertador. Sou a super-mãe. Sinto-me capaz de tudo pelo meu mais que tudo. Sou a verdadeira “cake boss”.

07h00 – Bimby “se prepara”.

07h15 – Raios! Esqueci-me de meter fermento na primeira camada do bolo. Tarde demais, já está no forno. Foca-te, mulher!

08h00 – O aniversariante acorda e quer panquecas. A sua vontade seja feita. Riquinho da mamã. O tempo passa tão depressa. Ainda ontem nasceu e agora já tem seis anos.

10h00 – Bolo a arrefecer. Voo para o supermercado a comprar fruta.

11h00 – Corto pedaços de melão, abacaxi, morangos e uvas que, minuciosamente, vou espetando em paus. A fórmula de sucesso para qualquer festa infantil: comida espetada em paus. Não digam que vão daqui.

12h00 – Esta era a hora em que devíamos ter ido decorar a sala reservada para o nosso lanche. Não há tempo. Depois improvisamos.

13h30 – Saímos de casa com 8 sacos do Pingo Doce, uma caixa com um bolo de aniversário, vários balões e um aniversariante em pulgas. Chove copiosamente.

14h30 – Os convidados chegam e preparam-se para saltar até ao infinito e mais além durante um par de horas. Estão todos felizes.

15h00 – A sala do lanche está pronta. Está uma humidade indescritível. Sinto um calor insuportável. Vejo-me ao espelho. Pareço a versão feminina do Jack Nicholson, no Shining.

17h00 – Começa o lanche. Comentários elogiosos à decoração e à comida. Suspiro de alívio.

17h30 – Pequeno conviva alerta-me que o Pedro está a comer algo. Tranquilizo-o dizendo que o Pedro pode comer tudo o que ali está. Afinal, é a festa dele!

17h40 – O Pedro decide que afinal não quer comer nada. Quer é brincar.

18h00 – A humidade do exterior está agora no interior da sala. Convidados deslizam pelo chão. Parece uma cena do Frozen, só que em vez das delicadas irmãs Elsa e Ana temos pequenos ogres. Temo que algum parta uma perna.

18h15 – Cantamos os parabéns. Todos estão felizes. Destilo suor e clichés da maternidade por todos os poros.

19h00 – De volta a casa, ainda com mais sacos.

19h30 – Tocam à campainha. Começam a chegar os convidados para o jantar de família. Preciso de algo alcoólico.

23h00“Pedro gostaste do teu dia?”. “Foi espectacular, mamã!”

23h59 – Sinto-me capaz de tudo pelo meu mais que tudo. Para o ano há mais.

*Dedicado ao Pedro (como se tudo o resto não lhe fosse dedicado!) que completou 6 anos, no dia 24 de Novembro. 🙂

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